Nunca fui do tipo mais aberto, que fala com todo mundo e quer festa a todo momento. Isso sempre me preocupou ao pensar em viajar sozinho e por muito tempo sequer passava pela minha cabeça a possibilidade.
Um belo dia estava em Belo Horizonte à trabalho, prestes a regressar a São Paulo. Pensei comigo, “vou passar 5 dias em BH sem conhecer um bar sequer? “. Tomei banho, chamei um taxi e fui na cara e na coragem.
No começo foi difícil, mas aos poucos fui conseguindo me entrosar e terminou uma noite tão boa como se estivesse rodeado de velhos amigos.
Me lembro que depois disso botei na cabeça que em outras oportunidades, não hesitaria em sair sozinho novamente.
Hoje estou há 7 meses viajando sozinho pela Europa. Posso dizer que não existe “melhor” e nem “pior” ao tentar comparar com uma viagem acompanhado. Cada viagem e lugar tem suas vantagens e desvantagens. Mas algumas experiências, só se têm acesso viajando sozinho.
O que aprendi
Aprendi que o fato de viajar sozinho acaba naturalmente te abrindo novas possibilidades para conhecer pessoas e culturas.
Mesmo para os que não se consideram sociáveis num primeiro momento, vai ter alguém sociável o bastante pelos dois que vai iniciar uma conversa com você, depois com outra pessoa, que consequentemente vai falar contigo e quando ver, você vai conhecer metade dos que estão ali.
Muitos estão “no mesmo barco”, querendo bater um papo, conhecer novas culturas e pessoas, mas precisam de um empurrãozinho.
Com o tempo você vai passar a perder esse receio de iniciar a conversa e isso vai se tornar um processo natural. Aí, quando você ver alguém sozinho com dificuldade de entrosar, será sua vez de ir lá chama-lo e essa é uma sensação muito gratificante.
Viajar sozinho não significa estar sozinho!
Vantagens e Desvantagens de viajar sozinho
Esta lista poderia ser imensa, mas vou levantar os pontos mais relevantes de cada com base na minha experiência.
Vantagens:
– Conhecer novas pessoas;
– Desenvolver ou aperfeiçoar um idioma;
– Conhecer o ponto de vista sobre algo, vindo de uma pessoa que tem uma influência completamente diferente da sua;
– Compartilhar momentos de grande e curto tempo, mas sempre intensos e eternos nas lembranças;
– Abrir as portas para novas possibilidades no mundo, de casas para se hospedar até possibilidades de trabalhos;
– Será uma oportunidade única para trabalhar seu autoconhecimento;
– Conhecer novas culturas;
– Você define seu roteiro e o que fazer do seu dia;
– Você aprende a superar seus medos e se desafiar;
– Você economiza. Viajando em conjunto, às vezes acabamos cedendo a alguns passeios que não queríamos fazer, pensando no todo. Estando sozinho, você vai gastar somente com o que for realmente importante para você;
Desvantagens:
– Pessoas com maior dificuldade de iniciar uma conversa podem sentir-se deslocadas num primeiro momento;
– Às vezes as piadas internas podem te deixar sem graça;
– O idioma que funciona bem com duas ou cinco pessoas, pode parecer limitado numa mesa com 15;
– Às vezes simplesmente sentimos falta de falar nosso idioma naturalmente, sem se preocupar se vão te entender;
– Talvez depois disso você só vá querer viajar sozinho.
Algumas experiências marcantes (positivas e negativas):
– Uma das figuras mais marcantes foi um escocês que conheci quando estava morando em Zagreb.
Ele estava viajando pela Europa de bike, saindo de Edimburgo. Naquele momento estava pedalando há 3 meses. Hoje já concluiu a rota, depois de 6 meses, 21 países, algumas acampadas no meio da estrada e mais de 13000 km, posso afirmar que ele sabe o que é de fato viajar sozinho.
A última vez que conversamos, demonstrou já estar pensando na próxima trip. Se quiser, na página dele tem algumas fotos e vídeos (em inglês).
– Ainda em Zagreb, tive a chance de conhecer um senhor mais velho, canadense, que dá aula para crianças imigrantes do mundo inteiro. Ele compartilhou alguns fatos bem interessantes sobre essas crianças, sobre a experiência de estar com elas no dia-a-dia. Foi uma conversa de poucas horas, mas muito valiosa.
– Viver em um país de idioma muito distinto pode ser complicado em alguns momentos. Quando morei em Zagreb e em Châtel, na França, a maior parte dos funcionários eram locais, então quando conversavam entre eles eu ficava sem entender nada, precisava esperar alguém traduzir, quando era o caso. Nestes casos, acabei recorrendo aos hóspedes, que geralmente são de diversas nacionalidades e não hesitam em trocar algumas palavras.
– Alguns lugares são extremamente adeptos ao inglês. Em Budapeste, Praga e Amsterdã, onde estou hoje, todos no hostel falam inglês 100% do tempo, então mesmo não sendo países de língua inglesa, torna-se o idioma principal internamente.
– Quando em Budapeste, tive uma das experiências mais marcantes até hoje, se não a mais. Foi bem na época em que os imigrantes da Síria estavam tentando chegar à Alemanha e ficaram ali porque o governo não os deixava embarcar no trem por estarem sem os devidos documentos. Talvez você tenha visto isso na TV.
Fui a encontro deles junto com dois companheiros de trabalho. Levamos comida, conversamos, brincamos com as crianças… No tamanho do problema, pode ter sido uma atitude mínima, mas foi o máximo dentro do que estava ao nosso alcance. Mas o que quero pontuar mesmo, é que um dos que estava comigo era um português, uma figura e tanto, que me impressionou ver o quanto essa experiência mudou a vida dele.
Passou todo tempo que pôde ajudando os refugiados, caminhou com eles rumo a Áustria, fez mais do que podia para dar um pouco de conforto aos que precisavam. Sempre me falava algumas coisas como se precisasse se dedicar unicamente a isso, ajudar e ajudar.
Pouco tempo depois vi pelo Facebook um vídeo de uma TV portuguesa, onde o discurso de um político foi interrompido por ele, para fazer seu protesto.
Tantas muitas outras coisas poderia colocar aqui, mas de nada adianta eu contar todas minhas experiências se elas não inspirarem você a ter as suas próprias.
Ninguém pode viver das experiências dos outros, então nós compartilhamos as nossas como forma de estímulo, porque esperamos que você tenha muitas tão boas quanto e tantas outras outras ainda melhores.
Recomendações para você que quer viajar sozinho:
Meus conselhos são bem similares aos que procuro dar sempre. Abra sua mente, permita-se novas experiências, permita o diferente.
Viajar sozinho vai te possibilitar conhecer um universo bem mais amplo e interessante do que você imagina e com muitos momentos que não vai querer trocar por nada.
Vale a dica de ficar em hostel. Essa atmosfera é repleta de pessoas com o mesmo espírito colaborativo, de entrosamento, de acolhimento. Seja com staff ou com hóspedes, pode ter certeza que terá bons momentos.
Já decidiu seu próximo destino? Compartilha com a gente.